Manifesto de Irrealidade


Julgado por uma aparência descontraída,
Sofro com a incerteza de por quem me aperfeiçoo.
Reclama a dúvida da minha aleivosia,
Não acreditando ser o íntimo da minha inspiração.
Cada palavra que sentimentalmente lhe emprego
Suscita-lhe a dúvida da sua peculiaridade,
Desta forma tento alcançar a sua indubitável confiança.
Tudo começa com um deslize hormonal,
Com a instabilidade dos fundamentos da nossa integridade
E com a cedência perante o pecado.
Os dois corpos se aproximam
E a totalidade à sua volta se consome,
Permanecendo apenas duas presenças
E um universo paralelo.
Há uma simpatia material forte,
Mas a atracção entre as mentes…
Entre a utopia de cada individualidade,
Provoca tal união de ânimo,
Que nem o mais poderosa das divindades,
Poderia prescrever a sua sentença de termo.
É então que um elementar contacto
Estimula uma imprevisível reacção,
Toda aquela bela aparência
Se resigna a minha competência
E em suaves suspiros
Me faz compreender a ânsia de prossecução.
Percorro cada ponto susceptível do seu corpo,
Dentro da permissão decente da contingência
E rendo-me ao sucedido,
Desprezando qualquer sentimento…
Culpa… apreensão… ou arrependimento…
O tempo fluiu de forma indeterminada,
Até que sem qualquer possibilidade
De constrangimento,
A linguagem passa a ser física
E os lábios se tocam em consonância,
E um beijo realça algo manifestamente previsto.
Julgamo-nos pela perplexidade
Do sucedido ser certo ou errado…
Culminamos numa paixão de culpa,
Posterior ao acontecimento,
Mas coevo a um arrependimento ilusório.
Ambos desconvimos de tal exercício,
Embora sejamos ineficazes perante a resistência.
Estamos entregues a um jogo…
Um vício ao qual cedemos,
Sem autoridade de abandono.
A união dos nossos temperamentos,
Impede que o afogo das partes
Iniba a pretensão.
Repetição constante das instâncias,
Se torna uma prática intemporal.

                                          Sanches

Sem comentários:

Enviar um comentário